O consumo de energia no Planeta é sustentável?

A Revolução Industrial, iniciada pelos ingleses no final do século XVIII, foi um marco de tal forma importante na história que viria a mudar quase todos os aspectos da vida quotidiana da época. A qualidade de vida da população começou a melhorar substancialmente, tendo podido beneficiar de um crescimento económico sustentado, coisa que até então nunca tinha acontecido. A produção feita por máquinas, os novos processos de fabrico e as novas formas de usar a energia contribuíram decisivamente para esse crescimento.

Por volta de 1800, a quase totalidade da energia produzida no mundo provinha da biomassa (queima de madeira e outros materiais orgânicos). Nessa altura, usava-se (principalmente o Reino Unido) uma pequena quantidade de carvão, de cerca de 2%. A expansão para o petróleo só começaria por volta de 1870 e, 20 anos depois, começaria a exploração do gás natural e da energia hidroeléctrica.

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Em 1900, o consumo de carvão já tinha aumentado significativamente, sendo responsável por quase metade da energia global. A outra metade da energia era obtida a partir da biomassa, dado que o petróleo, o gás e a energia hidroeléctrica continuavam a ser muito pouco usados.

Em meados da década de 1950 começou a ser explorada a energia nuclear. As energias renováveis só entraram em cena nas décadas de 1980–90. Ainda assim, mesmo actualmente, a sua produção e consumo é quase insignificante, se comparado com o das três principais fontes de energia.

Se olharmos para a evolução do consumo de energia primária ao longo dos últimos 200 anos, facilmente percebemos que houve um aumento exponencial que acompanhou o aumento de população no Planeta. Em concreto, em 2015 o mundo consumiu 146.000 TWh de energia primária — 26 vezes mais do que em 1800.

Evolução do consumo global de energia primária entre 1800 e 2017. https://ourworldindata.org
Evolução da população mundial entre 1800 e 2019. https://ourworldindata.org

Apesar de, por vezes, podermos ficar com a ideia de que a produção e o consumo de energias renováveis são actualmente consideráveis, na verdade não é essa a realidade e a sua contribuição permanece ainda muito pequena. Mesmo que se incluam os biocombustíveis modernos e a energia hidroeléctrica, o consumo de energias renováveis é inferior a 5% do total. Isto mostra o longo caminho que ainda temos que percorrer para que haja uma efectiva transição dos combustíveis fósseis para as energias renováveis.

Os dados mostram a clara dependência de combustíveis fósseis que o mundo actual ainda mantém, principalmente nos transportes. Recentemente assistimos, em Portugal, ao impacto que a escassez de combustível teve no país, em apenas uma semana. Enquanto que o consumo continua a aumentar em quase todo o mundo, as reservas diminuem, visto que já atingimos o chamado “Pico do Petróleo”. Segundo as estimativas, as reservas mundiais de combustíveis fósseis apresentam 114 anos para o carvão, 53 para o gás natural e 50 para o petróleo. Tendo em conta o aumento estimado da população, é fácil perceber que não temos outra alternativa a não ser inverter completamente a curva de produção para que as energias renováveis sejam, de longe, as mais utilizadas.

No caso da energia solar, por exemplo, se olharmos para os números, facilmente percebemos o quanto desperdiçamos a energia que a nossa estrela produz e que chega até nós. Em apenas 1 segundo o Sol gera 3,8 x 1026 Joules de energia. Dessa quantidade, 1,8 x 1017 Joules chegam à Terra. Por ano, a população mundial consume cerca de 6 x 1020 Joules, o que significa que em menos de uma hora o Planeta recebe do Sol a quantidade de energia necessária para consumir num ano. Para produzir a mesma quantidade de energia são precisas milhares de milhões de toneladas de carvão, petróleo e gás natural.

Se o consumo de energia no Planeta é sustentável? Longe disso. E a cada ano que passa a sustentabilidade diminui, sendo urgente tornar exponencial a produção e consumo de energias renováveis. Em 2018, o consumo de energia primária aumentou 2,9%, o maior desde 2010 e quase o dobro da média dos últimos 10 anos, que é de 1,5%. Até quando iremos continuar com estes níveis de crescimento e de consumo?

Consumo de energia por país em 2018.
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