Entrevista a João Silva, candidato a Presidente da Câmara Municipal de Aguiar da Beira pelo CDS

João Silva, médico, 63 anos, é natural de Ílhavo e residente em Aguiar da Beira há 35 anos. Foi médico no Centro de Saúde de Aguiar da Beira, tendo-se já aposentado. É candidato à presidência da Câmara Municipal de Aguiar da Beira, pelo CDS. Antes de ir a votos nas eleições autárquicas do próximo dia 1 de outubro concedeu uma grande entrevista ao jornal Caruspinus.

João Silva.

Quando é que ingressou na política e que cargos desempenhou nela até agora?
Iniciei a minha atividade política em Aguiar da Beira, nas Autárquicas de 1985, a convite do prof. Joaquim Lacerda, candidato nesse ano a Presidente da Câmara Municipal de Aguiar da Beira, como membro da lista do CDS- PP para a Câmara Municipal. Ocupei ainda o cargo de deputado Municipal em 1997 pelo mesmo partido.

Porque é que decidiu candidatar-se a presidente da Câmara Municipal?
A minha candidatura assentou em alguns pressupostos:

  • Era preciso mudar o egocentrismo obsessivo do anterior presidente de câmara;
  • Era urgente mudar e movia-nos a esperança de mudar para melhor;
  • Era preciso dar oportunidade a outras pessoas supostamente com outra visão outras ambições, maior dinamismo, apartidarismo, etc., etc.;
  • Era preciso dar oportunidade a outros projetos independentemente das filiações partidárias.

Os objetivos previstos no apoio do CDS aos independentes há 4 anos não foram atingidos e como tal entendi, juntamente com o apoio do CDS, dar o melhor de mim a este Concelho, candidatando-me à presidência da Câmara Municipal de Aguiar da Beira.

Como é que avalia o trabalho que o executivo tem feito ao longo deste mandato?
Muita parra e pouca uva, falta de ideias para o essencial e o essencial basicamente será: trabalhar e gostar de viver em Aguiar da Beira.

A oposição tem feito diversas críticas à gestão do executivo ao longo do tempo, não só relativamente à forma como o dinheiro é gasto, mas também às apostas na fixação de pessoas em geral e de jovens em particular, no turismo e no património, à atratividade do concelho, à política de contratação da Câmara Municipal, entre outras coisas. Que comentários tem a fazer a essas críticas e como é que avalia o trabalho que a oposição tem feito?
As críticas desde que construtivas, concordo com elas e devem ser levadas em consideração, não basta criticar por criticar, é preciso sobretudo apresentar alternativas e algumas têm sido apresentadas pela oposição.

Acha que o executivo cumpriu o plano que apresentou aos munícipes há quatro anos?
O meu projeto não é dizer mal do trabalho de quem quer que seja, não é criticar por criticar, destruir por destruir, tento ser construtivo, mas reconheço que os objetivos delineados há 4 anos não tiveram um plano de execução sustentado, sofreram alterações programáticas à medida das necessidades eleitorais. Infelizmente, a política atual é assente sobretudo na demagogia, na difamação dos opositores, na deturpação dos valores democráticos e da liberdade individual.

Como é que avalia a evolução do concelho ao longo das últimas décadas e em particular ao longo dos últimos quatro anos?
Pessoalmente sou da opinião que o desenvolvimento de uma cidade ou de uma vila tem tradução em vertentes importantes: para viver, realizar negócios, visitar, e nestes itens em estudo elaborado pela consultora Bloom Consulting na zona Centro e avaliados 100 municípios, Aguiar da Beira ocupa um pobre (89.º).

Poder-se-á então concluir por uma estagnação e mesmo decréscimo na qualidade de vida, turismo, talento e negócios neste concelho, pelo menos desde há 3 décadas.

Exceto casos pontuais, que não são de desvalorizar, o concelho de Aguiar da Beira tem aparecido nos últimos lugares em vários estudos de entidades independentes, destacando-se a falta de atratividade do concelho, para viver, visitar e fazer negócios. Que comentário tem a fazer a esta situação?
A realidade fala por si e enquanto houver uma política de interesses instalados seja de que executivo for, este concelho nunca sairá do marasmo em que está mergulhado. Desculparmo-nos com a interioridade e os maus acessos não justifica tudo.

Não acha que deveria ser feito um investimento mais significativo nestas áreas?
Perante os resultados publicados é óbvio que deveria haver maior investimento nessas áreas.

É também sabido que o concelho tem vindo a perder população de forma alarmante. Segundo dados do portal Pordata, residiam no concelho em 2001, 6227 pessoas, em 2011, 5454 pessoas e em 2016, 4987 pessoas. Em 15 anos, o concelho perdeu cerca de 1200 pessoas, o que dá uma média de 80 pessoas por ano. Não sendo esta uma competência da exclusiva responsabilidade da Câmara Municipal, o que é que acha que esta pode fazer para minimizar esta diminuição de população?
Por um lado, população muito idosa, por outro a baixa natalidade e um elevado fluxo migratório, contribuem para a diminuição assustadora da população residente. O município pode e deve contribuir para a alteração destes dados desoladores, facilitando a instalação de empresas, (cedendo terrenos e agilizando os processos burocráticos) para regresso dos jovens emigrantes, apoio à revitalização do comércio tradicional, estimular a natalidade com ajudas financeiras e ou outras, às grávidas ou futuras mães. Serão apostas importantes para uma inversão da taxa de residentes neste concelho.

Há alguns meses foi anunciada a substituição do Centro de Atendimento Municipal pela Loja do Cidadão, situação que a oposição criticou. Que comentário é que tem a fazer a esta opção?
Sou da opinião que se deve procurar um espaço de raiz com estacionamento satisfatório, ou eventualmente recuperar um imóvel ainda que não esteja centralizado. “Misturar” no mesmo espaço serviços municipais e uma loja do cidadão iria decerto desvirtuar o próprio edifício camarário, que na sua génese não foi construído para abarcar uma loja do cidadão, cujas funções e horários são inadequados ao funcionamento dos serviços camarários.

Se for eleito presidente, pretende fazer alguma alteração relativamente a esta situação?
A minha resposta está implícita na resposta anterior, sou da opinião que deve ser construído ou recuperado um imóvel para esse fim específico.

A Câmara Municipal dispõe hoje em dia de vários gabinetes de apoio ao munícipe e às empresas. O que é que tem a dizer sobre a atuação destes gabinetes?
Esses gabinetes ou não fazem o seu trabalho ou não lhes é dado autonomia e condições para o poderem fazer.

A oposição fez também diversas críticas à forma como os vários orçamentos foram propostos, dizendo que se investiu demasiado em festas e em coisas não essenciais. O que é que tem a dizer sobre estas apostas?
As festas são necessárias nem que sirvam para a população destressar e conviver, no entanto, nem oito nem oitenta, pois mais importante que a diversão será gerir bem os dinheiros públicos. Repito – nem oito nem oitenta.

Realizou-se este ano a XVI Feira das Atividades Económicas do concelho. Como é que tem visto a evolução deste evento ao longo dos anos?
Estes eventos são sempre positivos. No entanto e face às expectativas criadas em torno deles, têm que ter muito mais visibilidade e criatividade, devendo ser polo de atração pelo menos nos concelhos limítrofes.

Realizou-se, também este ano, a IV Festa do Pastor e do Queijo, com a inauguração do Mercado do Gado. Como é que tem visto a evolução deste evento e como é que vê a sua substituição pelo evento que se realizava anteriormente?
Qualquer evento que “mexa” com a economia local, no caso específico com o setor agrícola, contará sempre com o meu apoio. A inauguração do mercado do gado decerto irá incrementar o negócio nesta área. Relativamente à feira do queijo, acho que a ter havido alteração de modelo, deveria ter sido bem pensado e amadurecido, para criar um grande impacto e levar mais longe o nome de Aguiar da Beira e dos seus produtos de excelência.

Aguiar da Beira tem atualmente um complexo desportivo com muito boas condições para a prática de diversos desportos. Que avaliação é que faz da sua utilização?
Utilização subaproveitada por possível falta de quadros técnicos e infraestruturas deficientes.

Quais é que acha que foram as maiores conquistas do executivo ao longo deste mandato?
Alcatroamento de algumas estradas/caminhos e realização de alguns eventos com impacto reduzido para os interesses do concelho.

Candidata-se pelo CDS-PP, apenas à Câmara e Assembleia Municipal. Quais são as suas principais propostas para os próximos quatro anos?
Intervenção em áreas fundamentais:

Na saúde:

  • Alargar o horário de prestação de cuidados de saúde e recuperar o serviço de atendimento permanente.
  • Rentabilizar as infraestruturas já existentes para a prática do exercício físico na prevenção da doença.

Na agricultura:

  • Criar um fundo de apoio à reflorestação e limpeza da floresta.
  • Incentivar o desenvolvimento de novas atividades agrícolas e apoio à manutenção das já existentes.

Na área social:

  • Criar novos espaços verdes e de lazer com circuitos de manutenção.
  • Apoiar as instituições de solidariedade social que cuidam das nossas crianças e idosos.

Na área do comércio, indústria e serviços:

  • Revitalizar o comércio tradicional.
  • Apoiar as empresas que pretendam investir na criação de postos de trabalho.

O que é que espera desta campanha?
Isenção, debate de ideias e respeito pela inteligência dos eleitores, evitando falsas e gastas promessas.

Há quatro anos o partido não apresentou candidatura às eleições autárquicas, tendo-se os apoiantes dividido entre o Movimento Independente e o PSD. O que é que espera destas eleições?
Espero que o eleitorado se reveja no atual e futuro CDS e que quem o representa hoje seja uma alavanca para os desafios do presente e no futuro.

Para terminar, sendo o Caruspinus o jornal de Carapito, gostaria que falasse também acerca de Carapito. Como é que vê o posicionamento de Carapito no concelho, quer em termos de dinamismo quer em termos de importância para o concelho em si?
Carapito como todas as outras freguesias fazem parte de um todo e só uma boa capacidade de resposta de todas as freguesias farão um Concelho forte e preparado para o futuro. É razão para dizer: A união faz a força.

Ainda sobre Carapito, a população questiona-se sobre o porquê de a recuperação do dólmen ainda não ter avançado, após ter sido já orçamentada várias vezes, de haver o interesse da Junta de Freguesia e das associações locais. Agora, através de um projeto com a CIM, tudo indica que a obra terá mesmo que avançar e terminar. Caso venha a ser eleito presidente, pode garantir aos Carapitenses que a obra será concluída e o dólmen passará a ser um ponto de turismo de referência do concelho?
Não sou adepto de promessas, mas se for eleito presidente ou se tiver que me pronunciar sobre tal e desde que seja do interesse de Aguiar da Beira e de Carapito em particular, será obviamente assunto a colocar nas prioridades de Carapito e do concelho.

Há mais algum assunto que não tinha sido tratado e que gostaria de abordar?
A política dos interesses instalados, a falta de rigor nos gastos de dinheiros públicos em obras de fachada e de caráter eleitoralista, serão com certeza áreas que me empenharei em combater.

Há alguma coisa que queira dizer aos munícipes?
Como disse atrás, não faço promessas, apenas um pedido: reflitam sobre a minha candidatura e sobre a capacidade de trabalho e honestidade das pessoas que estarão comigo nesta batalha eleitoral.

Finalmente, quero agradecer a oportunidade que o jornal Caruspinus me deu, para poder expressar livremente os meus pontos de vista e assim permitir que a minha mensagem chegue mais longe.

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