Água — um recurso finito que é preciso gerir eficazmente

Há já várias décadas que somos alertados para a escassez de água no planeta. No entanto, é por vezes difícil perceber como é que, sendo 70% da superfície do nosso planeta coberta por água, podemos falar na sua escassez. Olhemos então para os números.

As estimativas dizem que, na Terra, existem qualquer coisa como 1386 triliões de litros de água (1.386.000.000.000.000.000.000 litros) ou 1386 milhões de quilómetros cúbicos. É muita água, no entanto, cerca de 97% dessa água encontra-se nos oceanos sendo, por isso, salgada e imprópria para consumo. Apenas cerca de 3% é doce e, dessa quantidade, somente cerca de 0,4% (5,544 milhões de quilómetros cúbicos = 5,544 triliões de litros) está disponível para consumo humano, ainda que uma parte desta também seja de difícil acesso. Parece muita água, mas não tanta assim quando se pensa que tem que ser partilhada por cerca de 7 mil milhões de habitantes do planeta, de forma constante.

A esfera maior representa toda a água do planeta e tem cerca de 1384 km de diâmetro. A esfera seguinte representa toda a água potável do planeta e tem um diâmetro de cerca de 273 quilómetros, sendo, no entanto, a sua maioria, água subterrânea e não acessível. A esfera mais pequena e quase invisível representa a água de todos os rios e lagos do planeta e, por isso, disponível para os humanos, que tem um diâmetro de cerca de 56 km. Howard Perlman, USGS; globe illustration by Jack Cook, Woods Hole Oceanographic Institution (©) Adam Nieman.

Em todo o mundo consumimos, anualmente, cerca de 550 biliões de litros de água. Fazendo uma divisão simples, facilmente chegaríamos à conclusão que a quantidade de água disponível, se consumida ao ritmo actual, chegaria para os próximos 10 mil anos. No entanto, a verdade é que a água doce do planeta não é partilhada pelos seus 7 mil milhões de habitantes e há já cerca de 2 mil milhões que, ou não têm qualquer acesso a água potável, têm grandes dificuldades em aceder-lhe ou apenas acedem a água contaminada [1]. Isto acontece principalmente na Índia e em muitos países de África. Mas a população global também irá aumentar, e muito!

Ao longo das últimas três décadas houve já vários conflitos por causa do acesso a água potável, em países como o Sudão, o Uzbequistão, o Turquemenistão, o Paquistão, a Índia ou a Somália. Com o passar dos anos, as alterações climáticas, o aumento da população e a escassez de água a ser cada vez mais visível, o número de conflitos armados irá certamente aumentar, o que provocará um grande número de deslocados, cidades abandonadas e muitas fatalidades, não só devido aos conflitos mas à própria falta de água, essencial para a vida, ou às doenças resultantes da ingestão de água contaminada.

Nos países desenvolvidos, onde a escassez de água não é tão visível mas, ainda assim, já notável, temos já assistido a racionamentos, o que nos mostra que é urgente mudar comportamentos e rotinas para que o seu uso não seja feito de forma livre e descoordenada.

Escassez de água no planeta. Azul: Pouca ou nenhuma escassez; vermelho: escassez física de água; laranja: a caminhar para uma situação de escassez física de água; amarelo: escassez económica de água. © International Water Management Institute

A água é um recurso finito e, ainda que tenhamos acesso a novas reservas, seja possível dessalinizar água do mar ou purificar água contaminada, estes são processos que tornarão o seu acesso igualmente difícil, pois o seu preço não será acessível a qualquer pessoa.

Se é verdade que agricultura consome uma grande quantidade da água potável disponível — cerca de 70% — a produção de bebidas, alimentos, produtos electrónicos ou roupas usa igualmente quantidades incríveis e por vezes difíceis de acreditar (sendo alguma dessa água chamada “água invisível”, por ser usada em diferentes etapas da produção). Vejamos alguns números na tabela seguinte.

https://waterfootprint.org/en/resources/interactive-tools/product-gallery/

Há um ano atrás, cerca de meio milhão de pessoas que vivem na Cidade do Cabo estiveram quase a ficar sem água, sendo esta a primeira grande metrópole em vias de esgotar completamente as suas fontes. No mês passado, em Chennai — a sexta maior cidade da Índia —, 4,6 milhões de pessoas ficaram mesmo sem água. No ano passado, um relatório do governo indiano advertiu que até 2020, 21 cidades indianas, incluindo Delhi e Bangalore, têm grandes probabilidades de ficar sem água subterrânea, o que terá um impacto tanto na segurança alimentar como na água para consumo de mais cem milhões de pessoas. Ainda assim, esse governo só agora está a adoptar medidas para o seu uso consciente.

Aqui no nosso “mundo”, há um sem número de comportamentos que todos podemos e devemos adoptar para reduzir a quantidade de água que consumimos, directa ou indirectamente, pois, como já vimos, também nós seremos afectados, mas ainda mais as próximas gerações. Esses comportamentos são bem conhecidos de todos, não sendo, por isso, necessário repeti-los. Basta que os ponhamos em prática.

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *