Reduzir, Reutilizar e Reciclar para recuperar o Planeta

Lixo electrónico em Agbogbloshie, Gana. Marlenenapoli, CC0, via Wikimedia Commons

Quanto lixo produzimos anualmente em Portugal? E qual é o seu destino? No artigo de hoje são os dados quem mais importam.

Segundo dados recentemente divulgados, em 2017 produzimos em Portugal 5,07 milhões de toneladas de lixo. Isto é o mesmo que dizer que, em média, cada português produziu 486 kg de lixo nesse ano, ou 1,33 kg por dia.

O objectivo nacional era diminuir, até 2020, o lixo produzido por cada português em 10%, em relação ao que era produzido em 2012. No entanto, excepto os anos da crise, em média, a quantidade de lixo não pára de aumentar, variando com o crescimento económico.

Para que conseguíssemos alcançar o objectivo traçado para 2020 era preciso reduzir em um quinto (18,6%) a quantidade de resíduos produzidos em 2018, 2019 e 2020, o que, como é óbvio, não irá acontecer.

O que é que pusemos no lixo em 2017?

Cerca de 70% dos resíduos que produzimos são recicláveis. E, 50,5% são resíduos urbanos biodegradáveis (RUB), se somarmos os biorresíduos, os verdes, o papel, o cartão e as embalagens de cartão para alimentos líquidos. No entanto, o problema é que reciclamos pouco. Muito pouco. Em 2017 apenas 38% dos resíduos recicláveis entraram em fluxos de preparação para reutilização e reciclagem. Mais uma vez, para alcançarmos o objectivo nacional para 2020 seria preciso aumentar esta percentagem para 50%, o que, também não irá acontecer.

Como acontece em muitas outras situações, Portugal escolheu um critério menos exigente para aferir a evolução da reciclagem. Ou seja, englobou muitas mais componentes nos RUB, como descrito acima. No entanto, a partir de 2025 a conta, em toda a União Europeia (UE), será feita a partir do total de RU produzidos, sejam eles recicláveis ou não. Assim, nesse ano teremos que reciclar 55% do total dos resíduos produzidos, em 2030 deverão ser 60% e em 2035, 65%. Considerando que as nossas contas há muito que estão inflacionadas, também já sabemos que não será fácil, a não ser que haja uma política de incentivos, uma nova legislação que em vez de incentivar obrigue à reciclagem e a indústria faça também a sua parte.

E que quantidade de lixo enviamos para o aterro?

Como já vimos, os números da reciclagem são enganadores. E são-no não só pelo motivo já apresentado, mas também porque parte dos resíduos que entram nos vários circuitos de valorização são rejeitados e acabam num aterro. Em 2017, a percentagem do lixo colocado directamente no aterro foi de 32%, mas, na verdade, o aterro acabou por ser o destino final de 57,4% dos resíduos produzidos no país. A meta da UE para 2035 é de não mais do que 10% dos resíduos urbanos a serem enviados para o aterro.

Tendo em conta estes valores, concluímos que, na verdade, a reciclagem não ultrapassou os 20%, o que é um valor muitíssimo baixo.

Outro dos problemas é ir demasiado resíduo biodegradável para o aterro. Portugal tinha estabelecido no Plano Estratégico de Resíduos Sólidos Urbanos (PERSU 2020) uma meta de deposição em aterro de não mais de 35% dos RUB que produzimos e que são mais de metade do total do lixo que fazemos. No entanto, como já vimos, os dados de 2017 foram bastante maus, o que levaria a que os resultados de 2018, 2019 e 2020 tivessem que ser muito bons para que se alcançasse essa meta, o que, com toda a certeza, também não irá acontecer.

A nível nacional, o Projecto de Estudo e Reflexão sobre o Desperdício Alimentar (PERDA) conseguiu estimar que cerca de 17% das partes comestíveis dos géneros alimentícios produzidos para consumo humano são perdidas ou desperdiçadas em Portugal, desde a cadeia alimentar até chegar ao consumidor. Há, portanto, demasiada comida desperdiçada nos RUB, ultrapassando um milhão de toneladas por ano.

E o que é que fazemos à roupa velha?

Nos RU havia, em 2017, 4,01% de têxteis, o que equivale a 200 mil toneladas de lixo. Em 2025, todos os países da UE terão que garantir a recolha selectiva de têxteis, que também serão reciclados. Esta é também uma das áreas em que o Governo deve trabalhar seriamente, disponibilizando em todo o território contentores para o depósito desta roupa (e também do calçado). A indústria têxtil é uma das mais poluentes e consumidora dos recursos hídricos pelo que devemos estender ao máximo o tempo de vida útil das nossas peças de roupa. Se o principal destino da roupa e calçado usados ou velhos deve ser a reciclagem, é ainda possível doar aqueles que ainda podem ser usados por outras pessoas ou reutilizar as roupas para limpezas. 

O futuro do lixo

Com as novas exigências comunitárias, em 2035 cerca de 80% dos resíduos sólidos urbanos que produzimos deverão ser classificados como recicláveis. A incineração e, em última linha, o aterro, são os destinos possíveis para a fracção restante, e, face às metas previstas, as empresas de gestão de resíduos em Portugal querem chegar a 2035 a reciclar 65% e a valorizar energeticamente, em centrais de incineração, os restantes 35%.

A expectativa é que seja cada vez maior a incorporação de materiais recuperáveis nos produtos que consumimos e que necessitemos ainda menos de incinerar ou enterrar resíduos. Enquanto que, pelo menos na UE, o lixo tal como o conhecemos deva deixar de existir nos próximos 20 anos, o mesmo não irá acontecer na maior parte do planeta, havendo um sem número de países com problemas muito sérios com o lixo, sendo, todos eles, países que apresentam grandes dificuldades económicas.

Ruas de Port-au-Prince, no Haiti (2018).

Lixo na África do Sul (crédito: whenoneart.net).

O lixo que exportamos

Apesar de não aparecer nas estatísticas, há uma componente do lixo que produzimos que não tem como únicos destinos a reciclagem, o aterro ou a incineração. A realidade é que há grandes quantidades de lixo que são também exportadas para países sub-desenvolvidos em África ou na Ásia. E é uma prática comum num grande número de países desenvolvidos. Portugal, por exemplo, entre 2015 e 2017 exportou mais de 100 mil toneladas de lixo plástico para países asiáticos. Em todo o mundo são exportadas milhões de toneladas de lixo por ano, principalmente plástico ou electrónico.

Incrivelmente, apenas este ano um grupo de 180 países signatários da Convenção de Basileia — que regula o transporte internacional de resíduos nocivos — chegou a acordo para tornar as exportações de plástico mais transparentes e reguladas, obrigando ainda os países exportadores a pedir autorização aos países que recebem os resíduos. Sim, até aqui não era preciso.

Segundo uma lista feita pela When on Earth, o top 20 entre os países que mais são usados como lixeira dos países desenvolvidos é o seguinte:

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No caso da Suécia, que também está na lista, o lixo que importa é usado para geração de calor para aquecimento de edifícios. O processo que utiliza é tão eficiente que a Suécia ficou sem lixo para queimar, começando a importar lixo da Noruega, da Irlanda, de Itália e do Reino Unido.

Para além da Suécia, cinco outros países europeus combinam zero aterro sanitário com altos índices de reciclagem: a Alemanha, a Áustria, a Bélgica, a Holanda e a Suíça. Em todos eles a percentagem de lixo reciclado é maior ou igual a 50%, incluindo-se também na lista países como a Coreia do Sul e a Eslovénia. Exemplos a seguir.

Quanto tempo leva cada material a decompor-se na Natureza?
– Alimentos: até 6 meses
– Papel: até 6 meses
– Filtro de cigarro: até 5 anos
– Chiclete: 5 anos
– Roupa: até 6 anos
– Couro: até 40 anos
– Aço: até 100 anos
– Plástico: até 450 anos
– Alumínio: até 500 anos
– Pilhas: até 500 anos
– Fralda descartável: 550 anos
– Linha de pesca: 600 anos
– Pneu: 600 anos
– Vidro: mais de 1 milhão de anos
– Lixo radioactivo: de 300 mil a 2 milhões de anos

Texto baseado em O país num contentor de lixo.

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