Lembranças XLVI — Gritos de Socorro

Um cantor popular canta: “Ao recordar o passado/ e olhando agora o presente/ como o mundo está mudado/ com tanta coisa diferente/”. Seja como for, com o devido respeito pelo passado, vamos abraçar o presente, com a esperança no futuro, que se deseja sempre melhor. Vamos recorrer ao Portugal de há algumas décadas, onde não havia o desenvolvimento, como nos outros países da Europa.

Referencio à minha infância em Carapito, onde de entre muitas coisas menos boas, relembro a vivência na Escola Primária. Todos os pais, salvo raras exceções, confiavam e atribuíam à Escola/Professor a responsabilidade dos filhos completarem a Instrução Primária (4.a Classe). Na sua maioria, poucos prosseguiam os estudos, dadas as grandes dificuldades para tal.

O Professor era tido como o detentor de todos os conhecimentos. Por isso digno do maior respeito e estima. Por parte de toda a população.

Por outro lado, principalmente, os alunos, perante ele eram os seres submissos do respeito, obediência e do medo.

Apesar de que mais tarde, vinha ao de cima o merecido bom senso. O reconhecimento do valor da Escola/Professor, no desenvolvimento de cada um, na sua vivência de vida.

Ao recordar dos muitos sacrifícios, entremeados por umas boas palmatoadas e outros castigos. Muito normais para aquela época. Onde tudo parecia felicidade e contentamento.

Para além da vida “escolar”, vivia-se também o inesquecível atraso, aliado ao analfabetismo e à pobreza, como: a habitação limitada, trabalho duro, alimentação deficiente, vestuário, higiene, doenças — tuberculose, sarampo — e mortalidade infantil. Das serapilheiras ou de calças velhas, eram feitas as sacolas para o material escolar, etc., etc.

E muitos mais sinais evidentes, de um atraso com hábitos de vida, muito pouco positivos. Que felizmente, com o decorrer do tempo se foram modificando.

Carapito, felizmente, no campo da Educação/Ensino e não só, tem sido contemplado com excelentes Professores/Auxiliares. Que sempre souberam, com sentido de responsabilidade e com grande empenho profissional, dar as melhores respostas.

Tendo sido bem correspondidos, pelos alunos, com quantidades e qualidades bem distintas a nível municipal. Pode afirmar-se que Carapito sempre marcou um passo em frente.

No sentido de todos quererem sempre saber mais para viver melhor.

Com as inovações das novas tecnologias, tudo evoluiu para as grandes mudanças e transformações.

Todos sabemos que o comodismo e a preguiça instalam-se com o tempo e o tempo passa depressa. É o ontem, hoje, e o amanhã já está à espreita. “A vida são dois dias”.

Por isso é preciso agir já e acompanhar a evolução da ciência e da tecnologia com uma troca de experiências, baseada na prática-teórica da ciência e tecnologia evolutiva, nas diferentes áreas de ação. Porque o ingresso no mercado de trabalho é cada vez mais exigente não só em número de conhecimentos, mas também na capacidade em aplicá-los.

É o agora, como na medicina e não só. O recurso aos órgãos doados, vida artificial por meio de aparelhos, provetas de fecundação, próteses, etc., etc.

Entra em ação o Homem-Máquina, com o corpo humano e a tecnologia aplicada.

Calcula-se que mais de metade das pessoas com 10 anos ou mais, utilizam a Internet na Educação/Ensino/Aprendizagem/Educação à Distância. Mas verifica-se que cerca de 1/3 da população não sabe manusear devidamente a linguagem da Internet.

Por isso, a necessidade do recurso à Tecnologia na Alfabetização Digital que tem sido um tema generalizado no Ensino à Distância, em todos os níveis, como Internet/TV’s, etc., etc. No campo educacional, o estudo online e presencial simplificam as muitas dificuldades. Seja a todo o momento, o mundo comunicar-se entre si.

E as dúvidas acabam quando as crianças que nem sabem escrever, mas já sabem digitar. Estamos perante imensas preocupações e inquietações, com exemplos:

  • A prioridade vai para a recuperação dos efeitos negativos, provocados pela Pandemia em todos os níveis de Ensino;
  • Falta de docentes/educadores/discentes. Por doenças, aposentação/reforma e falta de motivação para a docência;
  • Principalmente no Pré-escolar/Básico, por causa da monodocência (1 Professor);
  • Greves dos Professores no Ensino Básico/Secundário. Por diversas reivindicações, tempo e progressão de todo o corpo docente/discente;
  • Criação de um combate criterioso e preventivo, ao isolamento, distanciamento afetivo, uso viciado do telemóvel, drogas, abandono escolar, insucesso escolar e envolvimento das famílias nas atividades inter/extracurriculares etc., etc.

Surgem por fim: os gritos de socorro que se ouvem e ecoam por todo o País;

  • Professores discentes/sindicatos/famílias/encarregados de educação: “Greve, greve, …”;
  • Governo: “Haja calma, devagar e bem se vai ao longe…”;
  • Alunos: “Queremos aulas, aprender mais…”;
  • Famílias/Encarregados de Educação: “O que fazer sem escolas e sem professores?…”.

Perante tantas notícias e tantas lamúrias por causa das greves escolares, o que se espera?

E se os alunos da Pré/Básico/Secundário se lembram: “Copiar os Professores e também fazer greve?”

Não e não! No ar o medo das “raposas” e dos “chumbos”. Haja paciência…

“Depois da tempestade vem a Bonança.”

José Lopes Baltazar, Caruspinus, Novembro de 2023, Ed. 71, S. II.

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