Itinerário do Caminho Português de Santiago no Centro de Portugal foi certificado

Caminho Central atravessa 12 municípios da região. Certificação assegura que reúne todas as condições de qualidade para os peregrinos.

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O Governo publicou na passada quarta-feira, em Diário da República, a certificação do Caminho Português de Santiago Central – Região Centro, proposta pela Turismo Centro de Portugal e pelos municípios abrangidos. Desta forma, o itinerário que atravessa a região Centro de Portugal recebe a certificação oficial de que reúne todas as condições de qualidade para os peregrinos do Caminho de Santiago.

O itinerário certificado pela Portaria n.º 216/2023, de 19 de julho – emitida em conjunto pelo Ministério da Economia e Mar e pelo Ministério da Cultura – tem 191,6 km e atravessa 12 municípios da região: de sul para norte, Vila Nova da Barquinha, Tomar, Ferreira do Zêzere, Alvaiázere, Ansião, Penela, Condeixa-a-Nova, Coimbra, Mealhada, Anadia, Águeda e Albergaria-a-Velha. O Caminho Central continua depois para norte, até terminar em Santiago de Compostela.

Para um itinerário ser certificado, tem de obedecer a um conjunto de requisitos, nomeadamente a fundamentação do uso consistente do itinerário de peregrinação, comprovado por fontes históricas, vestígios materiais ou tradição documentalmente registada. Outros critérios exigíveis são a disponibilização de equipamentos de apoio aos peregrinos, incluindo locais para dormir, locais para preparar ou servir refeições e tomar banho, desejavelmente a cada 20 quilómetros, bem como pontos de descanso com sombra, dotados de água potável, desejavelmente a cada 10 quilómetros.

De acordo com o parecer da Comissão de Certificação do Caminho de Santiago, o itinerário do Caminho Português de Santiago Central – Região Centro apresenta condições de segurança, transitabilidade, equipamentos de apoio e informação adequados aos peregrinos.

A fundamentação do itinerário, que consta da Portaria, parte da identificação da rede viária romana e medieval, apoiada em estudos históricos credíveis e vestígios arqueológicos. De especial relevância foram fontes históricas relacionadas com as peregrinações jacobeias, nomeadamente relatos de viagens entre 1495 e 1669, que permitem conhecer, nalguns casos com bastante pormenor, os pontos de passagem ou paragem dos narradores.

O itinerário é também apoiado na carta militar viária de 1808, que representa uma rede viária ainda muito baseada nos traçados medievais. A certificação identifica ainda fontes imateriais que sustentam a antiguidade do itinerário, com destaque para a albergaria fundada em 1172 pela rainha D. Teresa, que dá o nome à atual Albergaria-a-Velha e que pode ter sido precedida por uma albergaria (mansione) romana.

Em alguns troços, os itinerários antigos foram absorvidos por estradas modernas e contemporâneas (estradas nacionais e mesmo autoestradas), situações em que são propostos traçados alternativos nas proximidades.

A Portaria reconhece como tendo elevado valor patrimonial os troços do itinerário entre Atalaia e Asseiceira; Casal do Pote/Casal das Bernardas e Tomar; Rabaçal e Conimbriga e o circuito urbano de Coimbra.

Cada vez mais peregrinos utilizam o Caminho Português de Santiago, que foi o segundo mais usado no último Jubileu. Esse aumento é notório nos itinerários que atravessam o Centro de Portugal: entre 2011 e 2019, duplicou o número de pessoas que fazem o Caminho Central, que passaram de 183 mil para cerca de 350 mil. É um caminho para todos, uma vez que 40% das pessoas que fazem o Caminho de Santiago têm motivação religiosa e 49% têm motivação cultural ou outra. A certificação agora publicada em Diário da República é o reconhecimento oficial de que esta rota reúne todas as condições para ser realizada com qualidade pelos peregrinos”, salienta Pedro Machado.

Estes Caminhos têm duas vias, ascendente e descendente. Queremos que, a longo prazo, cada vez mais peregrinos façam o percurso inverso, descendo da Galiza até ao Centro de Portugal, o que permitirá reforçar ainda mais as estreitas ligações entre esta região e o mercado turístico espanhol”, acrescenta.

Inscrição do Caminho Português como Património Mundial da UNESCO

A certificação é mais um passo importante na inscrição dos Caminhos Portugueses de Peregrinação a Santiago de Compostela como Património Mundial da UNESCO, conforme foi proposto por Portugal em 2016. Para que tal classificação seja concedida, é necessária a certificação dos caminhos.

Recode-se que a proposta de certificação do Caminho Português de Santiago Central – Região Centro foi apresentada em finais de 2020, numa iniciativa que resultou de uma parceria entre a Turismo Centro de Portugal e os 12 municípios abrangidos, em concertação com a Federação Portuguesa do Caminho de Santiago. O objetivo é dinamizar o Turismo Religioso na região Centro de Portugal, nomeadamente no que diz respeito aos Caminhos de Santiago.

Neste momento, está a ser trabalhada a proposta de certificação de outro itinerário, a Via Portugal Nascente, que atravessa oito municípios da região: de sul para norte, Vila Velha de Ródão, Castelo Branco, Fundão, Covilhã, Belmonte, Guarda, Celorico da Beira e Trancoso. Em Trancoso, esta rota de peregrinação entronca no caminho de Torres, que procede de Salamanca e termina, naturalmente, em Compostela.

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