Dia Mundial dos Oceanos — uma reflexão

Inicio hoje uma nova coluna do jornal Caruspinus, esta exclusivamente dedicada à opinião, onde se pretende que sejam apresentados temas actuais com especial relevância. Todos estão convidados a participar, sejam colaboradores ou leitores.

Image by Hans Braxmeier from Pixabay

Comemora-se neste sábado, 8 de Junho, o Dia Mundial dos Oceanos. As Nações Unidas definiram que este ano devemos focar-nos em “descobrir maneiras de promover a igualdade de género em actividades relacionadas com os oceanos“. As Nações Unidas estimam que, todos os anos, 13 milhões de toneladas de plástico vão parar aos oceanos, provocando a morte de 100 mil espécies marinhas.

Num tempo em que a sustentabilidade do planeta, com especial destaque para os oceanos, o ambiente e as alterações climáticas, ganham cada vez mais destaque, nunca é demais lembrar o porquê da sua importância.

Hoje, realizam-se em todo o mundo 1071 eventos relacionados com a sustentabilidade dos oceanos, 13 deles em Portugal, onde a limpeza de praias ganha o maior destaque. E a seriedade do problema não é para menos. Vamos a alguns números:

  1. Por ano, são lançadas nos oceanos cerca de 13 milhões de toneladas de plástico;
  2. Há cinco manchas de plástico gigantes nos oceanos de todo o mundo. Estas enormes concentrações de plástico cobrem grandes áreas, como a mancha entre a Califórnia e o Havai, que é do tamanho do estado do Texas;
  3. A cada minuto, um camião de lixo de plástico é despejado nos oceanos;
  4. Em 2050 haverá mais plástico nos oceanos do que peixes (em termos de peso);
  5. O plástico é encontrado em qualquer ponto dos oceanos, até a 11 km de profundidade, na mais profunda fenda oceânica;
  6. Muito do peixe que os humanos consomem contém micro-fibras de plástico por eles ingerido.

Num artigo publicado na última quarta-feira por um grupo de cientistas do Departamento de Biologia da Universidade de Victoria, no Canadá, os autores concluíram que a ingestão de micro-plásticos varia de 74 mil a 121 mil partículas por ano, conforme a idade e o sexo da pessoa. Talvez mais surpreendente será a conclusão de que “indivíduos que cumprem a ingestão de água recomendada apenas por meio de fontes engarrafadas podem estar a ingerir mais de 90 mil micro-plásticos anualmente, em comparação com 4 mil micro-plásticos para quem consome apenas água da torneira”. Apesar de ser difícil quantificar o tamanho dos micro-plásticos, estes podem ser fragmentos de até 5 milímetros de comprimento, o que, se considerarmos o limite extremo dessa escala, quereria dizer que ao ingerir 121 mil partículas de micro-plásticos seria o equivalente a engolir uma fita plástica de 605 metros de comprimento!

O pior caso é o do mar Mediterrâneo, que continua a ser o mar mais poluído do planeta. O ritmo a que a poluição daquele mar está a aumentar pode ser vista da seguinte forma: é como se, a cada minuto, fossem despejadas 33.800 garrafas de plástico no Mediterrâneo. E, segundo a World Wide Fund for Nature (WWF) “a poluição por plástico continuará a crescer”, podendo até quadruplicar nos próximos 30 anos.

Felizmente as iniciativas a favor dos oceanos têm-se multiplicado, sendo algumas delas extremamente significativas. A título de exemplo, o norueguês Kjell Inge Røkke está neste momento a construir aquele será o maior iate do mundo com o objectivo de retirar cinco toneladas de lixo do oceano por dia. Ainda assim, se fizermos uma conta simples facilmente percebemos que apenas conseguirá limpar 1825 das 13 milhões de toneladas de plástico “despejadas” nos oceanos todos os anos.

Em Portugal também foi lançada recentemente a iniciativa “plástico a mais“, que pretende denunciar casos de uso excessivo de plástico.

Tendo em conta o estado de calamidade em que se encontram os nossos oceanos e que, trazem também inúmeros problemas à saúde pública, é urgente que todos façamos a nossa parte e passemos a usar cada vez menos plástico no nosso dia a dia, reciclando-o, sempre que não for possível evitar o seu uso. É urgente mudar. Ou faz sentido que apenas 9% de todo o plástico produzido seja reciclado? Por vezes as campanhas ajudam, mas, infelizmente, não é suficiente e temos que fazer mais.

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