Por estes dias, é cada vez mais fácil ver um comboio de luzes a atravessar o céu, nada mais, nada menos, que os satélites do projecto Starlink da empresa SpaceX, que pretende levar a Internet por satélite a todo o planeta. (O serviço conta já com mais de 500.000 pré-reservas, algumas feitas em Portugal, tendo um custo mensal de 99€, a que acrescem 499€ de instalação e 61€ de envio.)
Nesta semana houve vários avistamentos no Norte de Portugal, incluindo em Carapito. Se à vista desarmada estes satélites podem causar alguma surpresa e até interesse, as implicações nas condições de observação do céu são gigantescas e estão a tornar-se cada vez mais graves.
Logo após o lançamento dos primeiros satélites, vários astrónomos criticaram a iniciativa, tendo mesmo apelidado o seu mentor — Elon Musk — de “o homem que polui os céus“. E a realidade é que os céus estão a ficar cada vez mais poluídos, dificultando as observações astronómicas e comprometendo inúmeros resultados científicos. Vários astrónomos afirmaram já que, a continuar assim, o número de satélites irá ultrapassar largamente o número de estrelas visíveis no céu (cerca de 10.000).
Após as críticas de astrónomos e organizações, a SpaceX comprometeu-se em arranjar soluções para mitigar o problema que, sabe-se já, serão sempre remedeios. Os 1500 satélites lançados até ao momento são apenas uma pequena parte do número total que a empresa pretende enviar para o espaço — 42.000! E esta não é a única empresa que pretende criar uma constelação de satélites. A Amazon também pretende ter a sua, com pelo menos 3200, e ainda a OneWeb que, dos 48.000 inicialmente planeados, pretende agora lançar 6300.
Desde o lançamento do primeiro satélite pela Rússia (Sputnik 1), em 1957, foram já lançados cerca de 11.000 satélites para o espaço, dos quais cerca de 6900 ainda estão em órbita. Destes, cerca de 4000 ainda funcionam e o resto faz parte daquilo a que se chama lixo espacial.
Esta multidão de satélites e detritos espaciais, que irá aumentar todas as semanas, faz com que o céu esteja cada vez menos escuro, apresentando já um brilho superior a 10% em relação ao céu natural. Este valor ultrapassa a ‘linha vermelha’ do limite estabelecido pela União Astronómica Internacional (UAI) para poluição luminosa. Ainda assim, a UAI não tem capacidade nem poder para mudar a situação. Para além disto, o excesso de objectos espaciais é cada vez mais um problema, uma vez que o risco de colisão e rádio-interferência entre satélites é cada vez maior.
O céu tem cada vez mais luzes, mas isso não é necessariamente bom.