A chegada do Homem à Lua foi há 50 anos — que tecnologias nos deixou a corrida espacial?

A 20 de Julho de 1969 a humanidade chegava pela primeira vez à Lua e, no dia seguinte, às 3 horas da manhã, o astronauta Neil Armstrong tornava-se no primeiro homem a pisar o solo do nosso satélite natural. Mais de 500 milhões de pessoas assistiram à transmissão onde ele proferiu a famosa frase “Um pequeno passo para um homem, um salto gigantesco para a humanidade”. Não só foi um salto gigantesco para a humanidade com foi também o maior feito tecnológico do século XX e um dos maiores de toda a história.

A epopeia, que só foi possível devido à competição entre os EUA e a União Soviética durante a Guerra Fria, teve início em 1957, com o lançamento do primeiro satélite para a órbita da Terra por parte dos soviéticos. Seguiram-se outras conquistas soviéticas como o envio da cadela Laika para o espaço, ainda no mesmo ano e, em 1961, com o envio do primeiro homem para a órbita da Terra — Iuri Gagarin —, acontecimento que realmente despoletou a ‘corrida à Lua’ e a tornou o principal objectivo.

A 25 de maio de 1961 o então presidente John F. Kennedy dirigiu-se ao Congresso para apelar ao financiamento dos programas espaciais, desafiando o país a pisar a Lua antes do final da década. No mesmo ano os EUA deram início ao famoso Programa Apollo, que incluiu 11 voos tripulados, com seis deles a pousarem na Lua, fazendo com que 12 astronautas caminhassem na superfície lunar, tirassem inúmeras fotografias, realizassem experiências científicas e trouxessem para a Terra cerca de 400 kg de rochas.

A tripulação da missão Apollo 11 em maio de 1969. Da esquerda para a direita: Neil A. Armstrong, comandante; Michael Collins, piloto do módulo de comando; e Edwin E. Aldrin Jr., piloto do módulo lunar. Crédito: NASA

Mas a ida à Lua foi muito mais do que uma corrida para ver quem chegava primeiro. Acima de tudo foi uma década e meia de grande inovação tecnológica e que, tendo sido realizada numa época em que os computadores eram muitíssimo diferentes do que aqueles que usamos hoje, enfrentou inúmeros problemas científicos e de engenharia. (A título de exemplo, qualquer telemóvel que usemos actualmente tem mais poder computacional do que aqueles que levaram o Homem à Lua.) Muitas dessas tecnologias foram sendo colocadas ao serviço da sociedade, sendo estes apenas alguns dos exemplos das mais de 6000 invenções resultantes da corrida espacial:

— Scanner de tomografia axial computorizada: esta tecnologia que permite detectar cancro foi usada pela primeira vez para detectar imperfeições nas componentes usadas no espaço.
Micro-chips de computador: os micro-chips dos computadores modernos são descendentes dos circuitos integrados usados no computador guia das missões Apollo.
Ferramentas sem fios: os berbequins e os aspiradores usam tecnologia desenhada para perfurar amostras recolhidas na Lua.
Televisão por satélite: a tecnologia foi criada para corrigir erros nos sinais emitidos pelas naves espaciais, por forma a melhorar a qualidade de som e imagem.
Lentes anti-riscos: o revestimento desenvolvido para os visores dos capacetes dos astronautas possibilitou o desenvolvimento de lentes para os óculos 10 vezes mais resistentes aos riscos do que aquelas que havia até então.
Uniformes à prova de fogo: os uniformes usados no combate a incêndios foram desenvolvidos pela NASA depois do fogo matou os três astronautas da missão Apollo 1.
Materiais absorventes de choques: os materiais absorventes de choques que se encontram na Ponte de São Francisco ou na Ponte Millennium de Londres foram desenvolvidos durante as missões Apollo e usados nas plataformas de lançamento dos foguetões. Ainda hoje são usados como absorventes de choques sísmicos por todo o mundo.
Termómetro auricular: permite medir a temperatura do organismo através da orelha, usando raios infravermelhos; a ideia foi inspirada nos medidores de temperatura das estrelas.
Aparelhos ortodônticos: começaram a ser usados pelos laboratórios ortodônticos para produzir aparelhos para endireitar os dentes, mais resistentes, transparentes e não deformáveis; o material foi inicialmente usado para cobrir antenas.
Painéis solares: foi inicialmente usado pelo satélite Vanguard 1 em 1958 e subsequentemente usado em todas as missões.
Alimentos desidratados: apesar de esta forma de conservação dos alimentos não ter sido inventada no decorrer do programa espacial, a forma como era feita teve grandes melhorias.
Caneta espacial: teve que ser inventada devido à necessidade de escrever em condições de micro-gravidade ou gravidade zero; acabou por ser possível escrever não só nessas condições, mas também em qualquer posição, em várias superfícies, incluindo debaixo de água e numa grande escala de temperaturas, entre -45 e 205 ºC.

É inequívoco que os programas de exploração espacial consomem enormes somas de dinheiro. A título de exemplo:
— Programa Apollo: 28 mil milhões de dólares (280 mil milhões de dólares actualmente);
— Estação Espacial Internacional: 150 mil milhões de dólares;
— Cada voo dos antigos vaivéns espaciais: 1500 milhões de dólares;
— Envio de pessoas, objectos ou mantimentos para o espaço (pela SpaceX): cerca de 20 dólares por grama (10 mil dólares por uma garrafa de água de meio litro ou 1,6 milhões de dólares por uma pessoa de 80 kg).

Apesar de tudo são também inequívocos os resultados destes investimentos, que não servem só para aumentar o nosso conhecimento e responder ao nosso desejo de conhecer sempre mais daquilo que existe fora do nosso planeta.

Vista sobre a Terra a partir da Lua, numa fotografia tirada durante a missão Apollo 11. Crédito: NASA

Uma nova corrida espacial está em marcha, agora com muitos mais países interessados, incluindo empresas privadas, e o turismo espacial já não é uma miragem. Para 2024 está planeada uma nova viagem à Lua, agora incluindo também uma mulher, mas o objectivo é bem maior e bem mais desafiador — chegar a Marte (assunto que fica para outro dia).

Neste website https://apolloinrealtime.org/11/ pode assistir a toda a viagem da Apollo 11 em tempo real.

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